Review: Irmãos e Irmãs– A 2ª Temporada

Chegou ao fim a segunda temporada de Irmãos e Irmãs, com um marco que muitas séries não conseguem alcançar: superar a sua temporada de estreia.

Muitas séries não o conseguem fazer. Alguns exemplos recentes dessa constatação são Donas de Casa Desesperadas, The O.C., Heroes, Prison Break ou mesmo Lost (embora não concorde, pessoalmente, no caso desta última). Mas Irmãos e Irmãs conseguiu entrar para o grupo de respeito das séries que se conseguem reinventar e melhorar com o tempo, conseguindo contrariar as baixas expectativas criadas no final da primeira temporada. A série soube dar a volta por cima e continuar a ser o guilty pleasure que todos nós gostamos, embora se encontre actualmente num patamar muito superior ao de um simples guilty pleasure.

Foram vários os factores que contribuíram para este melhoramento, sendo o principal, como não podia deixar de ser, o maravilhoso elenco. Embora, em alguns momentos da temporada, tenhamos presenciado uma família mais dividida (Kitty andou um pouco afastada dos seus familiares durante vários episódios), a verdade é que os momentos em que todos os personagens se encontravam juntos eram de ouro. A química entre os actores foi perfeita, e as interpretações não lhe ficam atrás.

Calista Flockhart, graças à sub-trama política e a todos os desenvolvimentos matrimoniais e maternais da sua Kitty, conseguiu tornar-se, finalmente, naquilo que todos esperávamos que ela fosse desde o episódio piloto: a verdadeira estrela do programa. Nesta série de episódios, na sua generalidade, grande parte da história andou em volta da personagem e da actriz, que se afirmou como uma das melhores protagonistas da actualidade. Sally Field superou-se, transformando Nora Walker numa mulher real. Deixando de lado os seus tiques de diva(?), Field deu corpo a uma mulher maternal, preocupada, apaixonada pelos seus filhos e um porto de abrigo para todos os que a rodeiam, a verdadeira matriarca da família. E tudo isto de uma forma adequada a cada situação: Sally Field foi subtil quando era necessário (dando espaço aos colegas para brilhar com ela) e soube tomar conta da história com uma enorme garra quando o argumento o exigia (explicando por que razão é uma das melhores actrizes da sua geração).

E o restante elenco não lhes ficam atrás! Dave Annable é a revelação perfeita como Justin: a sua interpretação enquanto toxicodependente impressiona e a maneira como lidou com a ligação da personagem a Rebecca também é merecedora de aplausos. E Emily VanCamp esteve sempre lá para o acompanhar e aos restantes colegas, sobressaindo agora na recta final da personagem com uma interpretação de ouro em “Double Negative”. Matthew Rhys e Patricia Wettig, embora sem grande destaque ao longo da temporada, mostraram o que valem nos últimos episódios: ele com a decisão de casar com Scotty (participação de Luke MacFarlane, que se irá juntar ao elenco fixo na próxima temporada) e ela com a reviravolta que a paternidade de Rebecca trouxe à sua Holly. E isto já para não falar de, por exemplo, Rachel Griffiths, Ron Rifkin, Rob Lowe ou até mesmo a pequena Kerris Lilla Dorsey.

Mas também não nos podemos esquecer do brilhante argumento da série, que ora nos emociona, ora nos faz rir, ora nos faz pensar. A saída de Jon Robin Baitz e o desmembramento de Greg Berlanti pelos mais variados projectos da ABC (ele é Irmãos e Irmãs, ele é Sexo, Dinheiro e… Poder, ele é Eli Stone…) faziam-nos crer de que a qualidade dos textos da série poderia decair, mas não foi isso que aconteceu. Foi o guião que muitas vezes possibilitou a que este maravilhoso elenco pudesse brilhar como nunca. Seja o envolvimento de Nora na recuperação de risco de Justin, o desenvolvimento de Saul ou o crescimento de Kevin, foram muito raras às vezes em que os argumentistas falharam em nos satisfazer, e mesmo quando falharam provaram que a decepção seria apenas passageira.

A sub-trama política que tantas alegrias trouxe à série pode ter terminado de uma maneira um tanto abrupta, mas a verdade é que até foi um final minimamente aceitável. Era óbvio que Robert nunca iria chegar a Presidente. Poderiam as coisas ter sido feitas de maneira diferente? Talvez. Mas, pelo menos, a desistência de McCallister da corrida à Casa Branca coaduna-se com o desenvolvimento da sua relação com Kitty, sacrificando tudo pela mulher que ama.

Nem mesmo na storyline mais crítica da temporada nos sentimos defraudados. A ideia de Justin e Rebecca juntos, à primeira vez, era repulsiva. A ligação, contudo, sempre esteve presente: a maneira como Rebecca olhava para o meio-irmão, durante toda a temporada, deixava-nos antever isso, e nos últimos episódios apercebemo-nos também de como Justin se sentia em relação à filha de Holly. Contrariando todas as expectativas, este desenvolvimento foi conduzido de uma maneira tanto cómica, como dramática, combinando na perfeição com a confusão de sentimentos por que os dois passaram e com a frustração que ambos sentiam por não poderem estar, de facto, juntos. Holly mentiu. Conveniente? Talvez. Uma certa falta de respeito para com os espectadores? Nem tanto. Afinal, a ex-actriz nunca se mostrou completamente certa da paternidade da filha; aliás, ela nem sequer queria contar nada à filha exactamente por causa disso. Foi Sarah quem trouxe esta história a lume, motivada por precipitadas conclusões, e foi ela própria quem contou a Rebecca a verdade. Holly limitou-se a seguir a maré… Será estranho ver Justin e Rebecca juntos daqui para a frente? De certa forma, sim. Mas eles próprios terão de encontrar uma maneira de contornar essa estranheza; ou talvez não…

Assim, é possível afirmar que o percurso desta segunda temporada foi percorrido em paralelo com o percurso da temporada passada. Tal como a primeira série se inicia com um misto de terror e sofrimento com a morte de William (participação de Tom Skerritt) e termina com uma onde de esperança com todas as personagens a mergulharem na piscina dos Walker, também este segundo ano passa por esta mesma escala de sentimentos. A permanência de Justin no Iraque, no início da temporada, é devastador para toda a família, que não consegue seguir com a sua vida para a frente sem a presença de um deles; o final deixa-nos a pensar e a aguardar pelo futuro, com um misto de esperança e medo pelo desconhecido, tal como nos evidencia a última cena com Justin e Rebecca. Como irá ser o futuro destes dois? Onde estará Ryan, o verdadeiro meio-irmão desaparecido? Como será a batalha de Sarah e Holly na Ojai Foods? Estarão Kitty e Robert preparados para assumir os papéis de pais de uma criança adoptada? Como será a vida de casados de Kevin e Scotty? E como será a nova vida de solteiro de Saul? E estará o casamento de Tommy (Balthazar Getty) e Julia (Sarah Jane Morris) finalmente no bom caminho? Uma coisa é certa: todos eles podem contar com o apoio e protecção de Nora Walker, a Super-Mãe!

Agora, só nos resta esperar que o tempo passe e a terceira temporada chegue rapidamente até nós. E se no conjunto de novos episódios se encontraram episódios como “36 Hours” ou “Moral Hazard” (duas das melhores horas de ficção que esta temporada televisiva produziu), então é oficial: Irmãos e Irmãs é mesmo uma das melhores séries da actualidade.

7 Responses to Review: Irmãos e Irmãs– A 2ª Temporada

  1. Pedro Maciel diz:

    Sem dúvida Daniel. Concordo a 100% com este texto.
    Chamem-lhe telenovela ou soap opera (quem quer “rebaixar” a série), mas o que é um facto é que ela “transpira” qualidade por todos os poros.

  2. vitoscano diz:

    É uma telenovela e depois eu gosto e isto sim têm imensa qualidade, não aquelas coisas da TVI.

  3. Rodra diz:

    Alguém sabe quando dá a 2ª parte da temporada (pós-greve) na FOX Life? Obrigado.

  4. JD diz:

    B&S… foi me conquistando… Perdi alguns eps. da 1ª temporada… Vi TODOS da 2.ª! E anseio pela 3.ª! Estou rendido à família Walker! Btw… Muito boa a review! 🙂

  5. vic diz:

    Sem duvida uma das melhores séries dramaticas dos ultimos anos… só tenho a apontar o facto de o numero elevado de personagens acabe por colocar de lado algumas personagens que estão lá desde inicio com relevancias muito medianas… e agora iremos provavelmente ter mais dois personagens fixos na historia… será que alguem sai..?. sinceramente penso que o Saul devia sair… tendo em conta que se tornou uma personagem sem muita presença e as situações em que entra são por vezes puxadas a ferros.

  6. Margarida diz:

    pergunto o mesmo que Rodra.. alguem sabe quando continuam a segunda temporada na fox life?

  7. katya diz:

    simplesmente uma serie excelente. alguem me sabe dizer quantos episodios tem a segunda temporada

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